Quanto tempo dura um atendimento?

Tomar a decisão de procurar ajuda pode ser mais difícil do que imaginamos muitas vezes. Tantos pensamentos nos ocorrem, tantas questões e tanto sentimentos envolvidos. Quando essa ajuda requer um profissional da área da psicologia estamos diante de situações ainda mais frágeis, daí a necessidade de se ter mais coragem e também cuidado na hora de escolher bem o profissional para atendimento.

Uma preocupação bastante comum é o tempo necessário para “resolver” a questão. Nos processos psicoterapêuticos muitos pacientes chegam para o psicólogo querendo realmente liquidar um aspecto que desgostam ou que deixou marcas muito profundas. Aí surgem duas noções díspares: será um atendimento muito longo, de anos, ou será rápido e eficaz, coisa pontual. Já no âmbito da avaliação, psicológica ou neuropsicológica, os pacientes chegam com a perspectiva de que em uma ou duas horas farão testes e já terão o resultado sobre o que se passa com eles.

Essas expectativas dos pacientes mostram mais um distanciamento de como funciona a “engenharia da psicologia” e é sobre isso que gostaríamos de tecer, rapidamente, alguns comentários. Afinal de contas, qual é o tempo de um atendimento em psicologia?

O tempo não é uma linha contínua, e nem sempre é uma linha numérica - Créditos imagem: sxc.hu

Vamos começar pela Avaliação, que é mais “simples” de explicar:

O processo de Avaliação é feito considerando todo o quadro sintomático do paciente, ou seja, quais são as queixas trazidas, seja pelo paciente, seja por sua família. O problema é que em geral a questão é sempre mais complexa. Por exemplo, “meu filho não aprende”, é uma queixa comum, mas o que pode estar por trás é quase infinito. Por isso o tempo de atendimento para uma boa avaliação extrapola uma ou duas horas, envolve mais sessões, porque é preciso coletar não só um bom histórico acerca dos sintomas e das queixas, bem como saber como foi o desenvolvimento, como vai a vida, como estão os relacionamentos, e assim por diante. Também a testagem precisa ser feita com cuidado, com zelo. Um resultado de um teste sozinho possui um significado muito estreito.

A Avaliação em Psicologia difere um pouco das outras áreas. Não é simples como um exame de sangue, mas ao mesmo tempo, o resultado final é mais completo, oferece outras alternativas e percorre várias possibilidades. [Veja esse outro Post que fala disso com maior detalhes].

O ser humano é complexo, e seu funcionamento psíquico também. Por isso para poder afirmar com segurança que o que está acontecendo é A e não B, temos de ir aos poucos, atentos ao caminho. A pressa pode ser perigosa, pois nos faz perder o foco e a atenção aos detalhes, são os detalhes que escondem informações valiosas.

O incrível acontece nos detalhes - Crédito imagem: Mohamed Aly otbida em sxc.hu

Claro que não se trata de ficar fazendo sessões e mais sessões a perder de vista! Isso tampouco favorece a saúde do paciente e dos envolvidos. Mais uma vez a experiência técnica ajuda muito no delineamento. Quais são as informações mais relevantes agora? O que pode ajudar a dar o primeiro passo para uma intervenção? Quando lidamos com idosos essa urgência fica bastante clara. As sessões são mais pontuais porque quanto mais rápida for a intervenção, maiores são as chances de resultado. Colocar na balança o tempo de duração do atendimento global é uma questão de estar atento, portanto, à pessoa avaliada, aos seus detalhes, a sua história, e também a necessidade mais urgente e mais atual.

Na Psicoterapia outras questões assumem outras tonalidades:

Um processo psicoterapêutico em geral começa quando uma questão se torna premente. Premente significa forte, mas não necessariamente urgente, ainda que nalguns casos o seja.

Podemos dizer que a Psicoterapia tem por objetivo fortalecer os processos psíquicos da pessoa para lidar com as questões ou dificuldades particulares que possui. A maneira de fortalecimento depende da necessidade do caso e das habilidades do psicólogo. Aqui, novamente, vemos a necessidade da boa escolha do profissional da psicologia para acompanhar alguém que precisa de auxílio.

Os detalhes dizem o que é e a beleza do que é - Créditos imagem: David Ritter - Obtido: sxc.hu

Mas o tempo da Psicoterapia é largamente diferente do da Avaliação. A história vai se descortinando aos poucos, e o paciente vem muitas vezes embrulhado em dores e mágoas tantas que cada passo no percurso carece de atenção. O tema central do atendimento não é certo, ainda que haja uma queixa inicial ela é um ponto de partida, mas o modo com que se desenvolverá é incerto. Não existem protocolos fechados, nem um produto final específico. O indicador que temos na Psicoterapia é justamente o quão mais forte a pessoa vai ficando diante da vida, e essa força vem do quão mais próxima ela é de si mesma. Isso pode ocorrer em dois meses ou em dez. Ou em um ano.

O tempo aqui assume outra perspectiva, porque o que é passado muitas vezes ainda é presente, ainda está doendo, ainda está acontecendo. Com efeito, na busca pelos critérios pessoais, por aquilo que é verdadeiro para cada um, o que é mais relevante é a certeza que a pessoa desenvolve acerca dos passos que dá na vida.

É certo que as pessoas chegam querendo esquecer eventos ou resolver mágoas, apagar feridas e as cicatrizes. São episódios que se arrastam durante anos, décadas. O mérito do processo psicoterapêutico é dar à pessoa a chance de entender quem ela é, o que é dela, de construir pontes, com o passado, com o futuro, consigo mesmo. E o tempo, contado em horas, minutos, sessões, não importa, importa sim o tempo de cada um, cada pessoa sabe reconhecer o olhar que precisa ter, pelo tempo que necessita.

Várias são as pontes ao nosso redor - Imagem obtida em sxc.hu

Claro, ao escolher qualquer coisa na vida é preciso ser pragmático. Mas ao escolher um atendimento em psicologia o pragmatismo só é pragmático se é real. E a realidade é que cada pessoa possui seu tempo, sua janela de acontecimento. Se no calendário isso significa oito meses, oito dias ou oito minutos, pouco importa para nós. Nossos números são únicos assim como cada pessoa tem, só ela, unicamente, a chance de ser quem ela é.