Nem tudo que é difícil é um transtorno…

Uma criança que está na escola pode apresentar dificuldades para aprender algum conteúdo. Na verdade, isso é bastante comum! E parece até estranho, o menino vai bem no ano, de repente, chega num conteúdo novo e empaca. Não consegue aprender aquilo, precisa de ajuda.

Muitos pais e professores ficam apreensivos nessa situação. Os pais ficam mais porque para eles é a primeira vez, enquanto os professores podem estar mais acostumados. A apreensão dos pais geralmente causa uma apreensão na criança que está com aquela dificuldade, e essa ansiedade não diminui porque a dificuldade é real. E todo mundo acaba entrando em um ciclo vicioso em que a dificuldade gera ansiedade, a ansiedade aumenta a dificuldade e ninguém sai do lugar.

Todo esse cenário faz com que pais e professores pensem que aquela criança tem uma limitação em seu aprendizado, e pode ter um Transtorno de Aprendizagem ou o famigerado Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade [TDAH]. Daí segue uma maratona de consultas e especialistas, até chegar ao neuropsicólogo – O Cara – que irá dizer se o menino tem ou não algum transtorno. E na maioria das vezes a resposta soa até decepcionante: ele não tem Transtorno de Aprendizagem. Ele tem uma Dificuldade de Aprendizagem.

A diferença entre esses termos parece sutil, mas tem uma implicação grande. O Transtorno – também chamado de Distúrbio – é um grau de comprometimento maior. Ele significa que de alguma maneira a criança tem uma disfunção neurológica na hora de processar uma informação. Tal disfunção é forte o suficiente para impedi-lo de aprender, porque ela atrapalha a base do aprendizado.

a Dificuldade de Aprendizagem é um grau menor de comprometimento, em que não há uma disfunção neurológica forte o suficiente para prejudicar a base do aprendizado. Mas há uma dificuldade sim, notória, em que a aprendizagem será mais difícil. No entanto, por não haver um déficit neurológico associado, é mais fácil fazer adaptações, compensações e um plano de intervenção. É mais fácil também que a evolução se dê de maneira mais natural e que após algum tempo a condição cesse.

Por outro lado, no Transtorno de Aprendizagem a dificuldade persiste, afinal de contas, a base está prejudicada, de modo que as adaptações, compensações e o plano de intervenção auxiliam, mas a criança necessitará de constantes ajustes no processo.

Uma criança com dislexia tem um Transtorno Específico de Aprendizagem da Leitura, e com isso vai precisar de adaptações e técnicas diferentes para serem aprenderem a ler. Elas vão ter que se valer dessas técnicas inúmeras vezes e, dependendo do grau, podem precisar continuadamente. Já uma criança com Dificuldade de Aprendizagem pode ter lá uma limitação na hora de aprender a ler, a metodologia tradicional não funciona para ela. Mas se faz um ajuste, ensina de outro modo, dá-se um tempo maior, faz-se um treino lúdica, e a dificuldade começa a esmorecer. A criança aprende e então passa para o novo nível. A dificuldade foi superada.

A Dificuldade de Aprendizagem pode ser compensada de maneira mais prática e simples – ou seria menos complexa? – por estratégias pedagógicas e comportamentais. O Transtorno de Aprendizagem também vai usar essas estratégias, mas vai requerer um apoio maior e contínuo. A alteração é na base, na forma com que o cérebro opera aquela informação, e com isso sempre haverá uma ou outra limitação.

O diagnóstico correto das duas situações é fundamental e quanto antes, melhor! Mas, identificar uma Dificuldade de Aprendizagem significa que a situação possui uma chance de resolução mais simples e prática comparativamente ao Transtorno.

O mesmo raciocínio pode ser feito para o TDAH. Existem alterações de atenção que são pontuais, devido a fatores ambientais. Volta e meia falamos do TDAH. Mas a mensagem principal é que nem toda desatenção é um transtorno. O TDAH envolve uma alteração mais forte do funcionamento do cérebro.

Por isso a importância de se ter boa assistência e não ficar ansioso com a situação. A pressa não ajuda em nada para diferenciar a situação. Como a gente sempre fala: Diagnóstico é coisa séria.